Desta vez a aventura foi épica, tanta coisa que não mais nos vamos esquecer.
Bem comecemos pelo inicio, um colega de trabalho deu-nos boleia até Seia (obrigado Lopes), já lá chegámos bem mais tarde do que pensávamos, sabíamos que íamos chegar lá acima bem de noite mas seguimos o nosso caminho serra acima pela senhora do desterro.
Uma estradinha praticamente sem trânsito que nos levou até meio da subida por paisagens brutais em sossego e com água pura a escorrer por todo o lado.
Quando o sol estava praticamente posto começámos a ver neve à beira da estrada e deu para perceber o que tínhamos ainda pela frente, um troço gigante com 10% de inclinação.
Com o cair da noite começou o frio a sério -3Cº, com uma lua cheia brutal dava para ter uma percepção do cenário que nos envolvia, vales brutais com picos cobertos de neve, imagens que pareciam de um filme.
Ao passar a Lagoa Comprida levantou-se um vento com rajadas na ordem dos 80kmh que nos fez sofrer durante uma hora, com o vento, os -3Cº ficavam com sensação térmica de uns -8Cº.
Quando chegámos perto dos 1900 metros o vento tornou-se tão forte que era praticamente impossível pedalar direito ou mesmo empurrar a bicicleta, como não havia nenhum sítio abrigado na torre para dormir, decidimos não fazer a parte final e descer procurando um sítio abrigado.
Com a noite já bem avançada não deu para procurar um sítio na Lagoa comprida pois estava tudo coberto de neve e gelo, descemos mais um pouco e dormimos numa casa em obras no sabugueiro.
De manhã foi arrumar tudo e fazermo-nos à estrada, queríamos fazer o máximo de km possível.
O gráfico de altimetria enganou-nos bem porque parecia que ia ser bastante fácil chegar a Coimbra mas sofremos bastante até lá.
Com 120km nas pernas apanhámos um sinal de estrada fechada por causa das inundações mas pensámos que seria apenas algum lixo na estrada, após uns 5km a pedalar deixou de haver estrada, a água destruiu a estrada por completo numa área uns 10m por 10m, estudámos a melhor maneira e demos à volta por entre ruínas da estrada e campos meio alagados. (1-0) para nós, mais uns km e 5 árvores caídas na estrada, mau, mas isto ainda vai piorar? Bikes à mão por cima das árvores e (2-0) para nós, mais uns km e novamente a estrada destruída, desta vez a primeira técnica não dava para usar porque era uma área gigante, passámos para o outro lado de um canal de rega e fomos pela terra num singletrack às escuras entre o Mondego e o canal de rega, tenho ideia que deve ter sido uns 2km assim. (3-0) passados muitos km de estrada esburacada veio o (4-0) uns 150m de água na estrada junto a Montemor o Velho com uns 35cm de profundidade, nem hesitámos, não estávamos ali para desistir nem dar a volta para trás 🙂
Parámos para jantar em Montemor e seguimos para a Figueira da Foz, fizemos 160km e por volta da 1h da manhã começámos a procurar um sítio para dormir junto dos eucaliptos.
No terceiro dia a palavra chave foi estrada atlântica com ciclovias a perder de vista, parecia quase que estávamos na route 66, uma paragem na praia de Pedrogão e São pedro de Moel e fomos direitos à Marinha Grande para apanhar o Comboio para baixo para não chegarmos muito tarde a Lisboa.